Viver entre os tempos,um apto castigo reservado para aqueles cuje o unico crime foi nascer,longe demais das sua heranças palaciais e perto demais oara uma morte com dignidade,neste intervalo instalase uma melancolia nas almas daqueles que são velhos demais para sonhar com mundos melhores e velhos demais para se agarrarem a orgulhos passados,somos espectros habitando uma casa que não nos pertence,convivendo com memorias as quais não assistimos e com futuros que não nos pertencem
A vida no interior deste pais nada mais faz senão agravar-me este sentimento,que esta enraizado nesta minha vila como o mofo nos telhados dos solares senhoriais,estas ruas sempre as mesmas,os rostos envelhecidos como os papeis de paredes que se descascam ao som de historias que não se contam em voz alta,eu cresci num tempo que ja cheirava a mofo,entre as ruinas da outrora respeitabilidade e dos habitos que ninguem ousa romper
Foi neste espaço de marmore gasto e silencio carregado que conheci Susana,foi neste cemiterio de antigo romantismo que eu a idealizeio pois creio que aquilo que amava talvez seja apenas o que faltava em mim. O meu pai,homem de contas firmme mas justo,um crente em principios exatos,ele via na educação uma chave para a fortuna o respeito e o sosego;Quando me fiz de idademandou-me para Coimbra,com um aperto de mão carregado com orgulho siloencioso de quem sobe mais um degrau na escala social,a esperança de que quando retorna-se troxesse comigo um titulo:Advogado,Doutor,Juizes ou qualquer outro que fizesse vergar o chapeu aos senhores e entre linhas disse-se "eis me aquihomem de sucesso exemplo como pai". Ingenuo o pobre coitado,Coimbra em vez de me domesticar no seu rigor,sorriu ao me abrir a porta para o Abismo,descobri aqueles poetas amaldicoados,os livros proibidos e os libertinos nos quais moldei a minha imagem,naqueles cafes onde as discuções politidcas fazem-se entre o trago do cigarro e ao sabor de absinto barato,posso dizer que aprendi mais com Byron e Baudelair do que alguma vez teria aprendido num compendio de direito;as aulas tornara-se obrigações rotineiras,o preço do prazer,a minha vida começava ao anoitecer entre os estudantes palidos,artistas falahados e aqueles que pela vida foram desiludidos.
Voltei a velha vila com o diploma,INUTIL,o meu pai me disse,mas não trazia so a folha,mas com ela tambem uma especie de nausea,um fastidio pelos pilares que seguravam este meu mundo que parecia querer afogar-me em formalidade de respeito,jantares de familia e missa ao domingo,tudo me suava a teatralidade repassada.Comecei a viver como sempre me disseram que não se devia,ausente de dia,bebado á noite,a escrever os meus pensamentos sobre o mundo e sobre as belas figuras que aos domingos adornavam a praça da igreja.Esta minha vila via-me com uma mistura de despreso e maliciosa curiosidade,como o exemplo do jovem que se perde na cidade grande,embora eu nunca me tenha perdido,apenas recusei ser encontrado.